terça-feira, 10 de abril de 2012

Profissional de COMEX


Comercio Exterior

Daniel Limas

Nunca se falou tanto em globalização, balança comercial, importação, exportação, superávit e internacionalização. Não é para menos: com a evolução dos transportes e das telecomunicações, as distâncias entre os países estão mais curtas. Viajar é muito mais simples e ter produtos importados em casa já não é raro. E o Brasil vem se destacando cada vez mais no cenário internacional.
O profissional de Comércio Exterior é fundamental para que produtos importados cheguem à sua casa – e para que produtos brasileiros estejam ao alcance de consumidores do mundo todo. Oriundo de uma das linhas de formação da Administração, este profissional é responsável por fazer as negociações e por lidar com todos os trâmites necessários para o comércio entre nações, considerando a diversidade de culturas, leis, regulamentações e exigências.
Dentre suas atribuições está gerenciar as atividades comerciais da rotina de importação e exportação em todas as etapas: câmbio, impostos, transporte e comercialização. Mas a área de atuação é bastante ampla, pois o profissional de Comex pode exercer atividades com foco financeiro (ao negociar recursos, obter linhas de crédito, avaliar riscos, estudar o câmbio) e operacional (logístico), além de prestar consultoria em Finanças, Recursos Humanos e Marketing.
Os ramos do mercado também são variados. Ele pode atuar em indústrias (maior demanda), comércios, bancos, consultorias (em crescimento) e na área da logística. No Brasil, o mercado também está aquecido em decorrência da forte internacionalização de empresas brasileiras dos mais diversos portes.

Perfil

Algumas características que são fundamentais para quem quer seguir carreira com Comércio Exterior: ter jogo de cintura, saber negociar, analisar situações futuras, planejar, ter senso de urgência, saber priorizar as demandas, gostar de conhecer outras culturas e povos.
Sonia Resende, analista de Gestão de Pessoas da ApexBrasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos, acredita também que um bom profissional deve ser resiliente, ou seja, ser capaz de suportar pressões e revezes e dar a volta por cima. “Em geral, as grandes negociações são bastante longas – duram até dois meses -, têm valores bastante altos e a pressão é enorme. Fora suportar a questão de hoje estar na sua casa e amanhã na China, ou ter de trabalhar aqui seguindo o fuso de determinado país. Não há horário de expediente”, conta.
E como as viagens e contatos com outros países são freqüentes, é fundamental que o profissional conheça amplamente o mercado com o qual vai negociar. “Não adianta apenas saber as leis e os trâmites legais. É preciso conhecer a cultura local para poder oferecer um produto adequado ou até mesmo saber como agir e se portar diante do cliente”, explica Sonia.

“Cada país tem suas exigências e peculiaridades. Por exemplo: para exportar nossos torrones para o Uruguai, foi necessário modificar o recheio e a embalagem. E isso você só entende procurando conhecer a fundo aquele país”, explica Mauricio Carmo David Neto, estudante do curso de Comércio Exterior da Universidade Mackenzie e responsável pelo Comércio Exterior da Indústria de Torrone Nossa Senhora de Montevergine.

E como não é tão simples, rápido ou barato fazer imersões nas culturas alheias, especialistas indicam usar a Internet, ler muitas revistas e jornais do país em questão, procurar consulados e embaixadas e também as associações que fomentam o comércio exterior, como é o caso da ApexBrasil. Para Eduardo Caldas, gestor de projetos da área de Agronegócios da ApexBrasil, o profissional que conhece bastante uma determinada cultura, seja por vivência, viagem ou até mesmo por ascendência, é muito valorizado pelas organizações.
Cercar-se de todos esses cuidados pode evitar uma negociação frustrada, insatisfação de clientes, horas e dinheiro perdidos, entre outros transtornos. Saiba que ao não conhecer a cultura local você pode até ofender o seu potencial cliente. “Nunca cruze as pernas e mostre a sola do sapato para os orientais. Da mesma forma que, ao receber um cartão, deve-se segurá-lo com as duas mãos. Outra dica: evite usar o número quatro com chineses, até mesmo em relação ao horário. O numeral tem o mesmo som do ideograma que representa a morte para os chineses. Outra gafe imperdoável é o famoso atraso brasileiro. É imperdoável para muitos povos, como para os japoneses”, explica Sonia.

Maurício Carmo David Neto lembra que se o profissional de Comex não entendeu o que o cliente quis dizer, não adianta ficar envergonhado. “É muito melhor pedir desculpas e perguntar novamente que cometer erros.”
Não é preciso nem falar sobre a importância das línguas para esta profissão, não é? Aí vai um alerta: “Não adianta ser fluente. É fundamental saber os termos comerciais”, diz Sonia. Inglês e espanhol são imprescindíveis, pois os maiores parceiros comerciais do Brasil utilizam estas duas línguas, mas o mandarim já está sendo solicitado por muitas empresas. 

A economia chinesa cresce muito e o “dragão” vem abrindo a sua economia. Por isso, profissionais que entendem de China estão sendo muito procurados – e valorizados.
Eduardo Caldas dá uma boa dica para quem quer seguir na área e se destacar: “A maioria procura se aprimorar nos países mais desenvolvidos da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia. Mas a grande oportunidade de emprego está para quem conhece países ainda em desenvolvimento, como os menores da Ásia, da África e nossos vizinhos latino-americanos”, acrescenta.

Formação

Segundo o coordenador didático do curso de Comércio Exterior da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Francisco Américo Cassano, uma dúvida bastante freqüente é a diferença entre o profissional que atua no Comércio Exterior para o da área de Relações Internacionais. Ele explica: “Enquanto o de Comex está focado no comercial, o de RI tem uma formação mais carregada na ciência política e social. Este pode atuar no Itamaraty, como diplomata, contribuindo para aprimorar a política externa do Brasil com outros países.”
O curso de Comércio Exterior tem duração média de oito semestres (quatro anos). No Mackenzie, por exemplo, Cassano explica que o aluno se depara desde o início com disciplinas específicas de Comex, ao contrário do que ocorre em outras instituições, que, segundo ele, focam o início do curso nas disciplinas da Administração.
Com relação à aceitação do recém-formado no mercado de trabalho, o professor Cassano comenta que quase 100% dos seus alunos terminam o curso com empregos em boas empresas. “A maioria começa a estagiar no 4º ou no 5º semestre. São raros os casos de quem não encontra boas oportunidades.”

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